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SUS: O maior sistema de saúde pública do mundo não é de graça — ele é fruto da nossa escolha coletiva

CADA ATENDIMENTO É SUSTENTADO POR IMPOSTOS, ESCOLHAS POLÍTICAS E UM PACTO COLETIVO QUE INSISTE EM FUNCIONAR. UM DIREITO PELA DIGNIDADE A SAÚDE.


Em um país marcado por desigualdades profundas, o Sistema Único de Saúde (SUS) é, talvez, a maior prova viva de que a solidariedade pode ser política pública. Ele está ali, disponível a todos: do turista que se acidenta em uma estrada brasileira, ao idoso que precisa de hemodiálise todas as semanas. Não há catracas, senhas bancárias ou cartões de crédito — só o direito, o acolhimento e a vida. Mas não nos enganemos: gratuito no acesso, jamais de graça.


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Cada consulta, cada vacina, cada transplante realizado pelo SUS é sustentado por uma engrenagem silenciosa que gira graças ao esforço coletivo. Somos nós que mantemos essa estrutura gigantesca, que movimentou mais de R$ 150 bilhões em 2023, por meio dos impostos que pagamos em cada produto, em cada serviço, em cada salário. Sim, até mesmo o estrangeiro que nos visita e consome aqui contribui, mesmo que indiretamente, para manter esse sistema funcionando. O SUS é a prova concreta de que existe um pacto entre nós: um pacto invisível, muitas vezes ignorado, mas essencial.


E ele não é pequeno: mais de 160 milhões de brasileiros estão cadastrados no e-SUS, segundo dados oficiais. Mais de 90% dos transplantes de órgãos no país são feitos dentro dessa estrutura pública. Todos os anos, milhões de atendimentos são realizados, salvando vidas, promovendo dignidade, assegurando o que, para muitos, seria inalcançável.

Mas, ainda assim, quantas vezes você ouviu — ou até pensou — que o SUS é "ruim", "ineficiente", ou "assistencialista"? Poucos percebem que o SUS é, na verdade, um dos pilares silenciosos da democracia brasileira. Ele é, também, um espaço onde nossas contradições se escancaram: exigimos muito, mas resistimos a reconhecer nosso papel nesse financiamento.


A cultura fiscal no Brasil é marcada pela desconfiança. Reclamamos da carga tributária, mas raramente conectamos essa resistência à falta de recursos no hospital público mais próximo. O mesmo cidadão que critica a fila no posto de saúde é aquele que, muitas vezes, ignora que o investimento por pessoa no SUS está aquém do necessário para atender às demandas crescentes de uma população que envelhece e adoece de novas formas.

Além disso, enfrentamos um fenômeno silencioso, mas devastador: a judicialização da saúde. Em 2023, mais de 344 mil processos correram no Judiciário, forçando o Estado a fornecer medicamentos ou procedimentos muitas vezes fora das diretrizes clínicas. Isso consome recursos, desorganiza o planejamento e, em algumas cidades, chega a comprometer até 100% do orçamento destinado à saúde pública. É o sintoma mais agudo da falência do diálogo e da falta de entendimento sobre a coletividade que sustenta esse sistema.


E, mesmo assim, ele resiste.


O SUS é diariamente atacado pela desinformação, subfinanciado cronicamente e, ainda assim, permanece sendo o maior sistema público de saúde do mundo, exemplo para muitos e, infelizmente, subvalorizado pelos que mais dependem dele.


Enquanto em países como os Estados Unidos, um tratamento pode custar dezenas de milhares de dólares, ou no Canadá, onde grande parte da saúde odontológica e medicamentosa é paga do próprio bolso, aqui temos um sistema que acolhe, cuida e salva — sem perguntar quanto você ganha ou qual o seu plano de saúde.


Por isso, falar sobre o financiamento do SUS não é apenas uma questão técnica ou contábil; é um convite à consciência. Não existe sistema público que sobreviva sem a participação ativa e responsável de seus cidadãos. Não há vacina, leito ou cirurgia que apareça do nada, há planejamento, profissionais extenuados, recursos financeiros e escolhas políticas que precisam ser feitas.


Defender o SUS é defender uma ideia: de que a vida vale mais do que o poder de compra; de que dignidade não deve ser um privilégio; de que nenhum brasileiro, ou mesmo estrangeiro em nosso território, será abandonado à própria sorte. O SUS é o Brasil que dá certo, apesar de tudo e de todos.


E, acima de tudo, ele é nosso. Pago por nós, sustentado por nós, e se assim quisermos, aperfeiçoado por nós.

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